segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Incoerências Noctâmbulas

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"A noite enorme
Tudo dorme

Menos teu nome
."

Essa noite sonho contigo sem dormir.

É uma noite bela. Levemente fria com um céu estrelado e negro azulado como se fosse uma única e sublime nuvem cristalizando e prendendo todas as minhas vontades brilhantes e inalcançáveis. Noite comum de um sábado onde todos são noctívagos procurando por algo que nem sabem o quê.
Eu não sei o quê busco e nem me importa saber.

Em mim há apenas o arder solitário e ígneo que desperta quando estou a sonhar acordado durante a noite... e nessa noite que escrevo,que já não é mais essa, sonho contigo em vestes de fogo vindo abraçar-me, queimando meu espírito com sua respiração forçada enquanto permaneço a tentar com todos os esforços manter meus olhos abertos para esse mundo de futilidades que habita meu redor; meu redor que se resume numa massa grande e uniforme de vermes inquietos que espreitam por uma oportunidade de roerem meus ossos.
Ah, queria eu ser mais um desses que alimentam-se de si mesmos! Queria eu não sentir essas coisas que assombram e fazem de mim uma espécie quase que impossível de criatura abstrata consciente e exacerbadamente apaixonada por... vida? Por morte? Por dor?... Não sei. Eu não queria sonhar; mas sonho.

Sua chama protege todo o campo a minha volta e me mantêm livre daqueles que não têm alma. Sua presença em minha solidão se faz como um refúgio. Sim um refúgio, pois é isso que é necessário quando não resta mais nada além do sonho desperto; mas o lugar onde me resguardo é o mesmo lugar onde me deterioro; culpa talvez de suas vestes chamejantes que me queimam, me ardem, consomem e fazem de mim pó; um punhado de cinzas esparsas pelo vento vazio de uma noite onde não há você... há apenas o devanear-te. Não aventurar-te... não viver-te... devanear-te em mim apenas.

O manto que cobre o resquício de razão presente dentro da madrugada é grande demais e não permite entrada de luz alguma. Esse manto deveria aquecer Nefelins mas está a encobrir uma estúpida razão anã. Melhor assim, penso eu, pois é desse modo que sonho contigo sem dormir, e sonho sem sono inevitavelmente é obscuro e misterioso... a verdade está sentada no meio enquanto estou andando em círculos. Quem disse que quero parar de andar em voltas? Quem precisa de alguma luz quando há fogo exterior para nos iluminar, salvar e destruir?... Quem precisa do universo quando há um olhar cósmico a sondar os devaneios vertiginosos de uma mente e um coração em caos?
Sonhando contigo sem dormir as palavras já começam a perder o nexo. Já não sei mais o que escrevo nem sei distinguir o que penso do que deixo transbordar nessas linhas irracionais... só sei, porque sinto vivamente o ardor, que você me queima com suas vestes de fogo. O fogo... o fogo... é oriundo da minha maldição de ser consciente de nossas quedas em pânico, em duvidas, em silêncios mais ruidosos que as mais agonizas almas do purgatório ...
Sonhando contigo sem dormir me desfaço em milhões de pedaços, me desintegro e sem perceber desmaio com sede enquanto me concedes fogo. E é assim, comigo em migalhas, que o fogo de suas vestes transforma-se num oásis a encharcar meus pensamentos. A calmaria de nefelibata se apossa de meu corpo que já não sinto mais... alto demais o vento gelado não permite que eu durma para sonhar contigo. O frio congela a água que teu oásis usou para me curar... O gelo arde mais que o fogo de outrora. Os lampejos de seu corpo são fiapos agudos congelados apunhalando meu coração.
Sinto dor e não sei mais onde. Já não sonho mais contigo sem dormir; já prevalece apenas o frio da incerteza; já não há mais suas vestes flamejantes...
Sem dormir e sem sonhar vejo a sua humanidade congelando meu coração.

Meu coração é um sol sem vida e congelado. Não será mais quando novamente você invadir meus sonhos e me aquecer com suas roupas ígneas.

De volta, olho com olhar desconfiado o mundo ao meu redor, sem proteção, sem fachada e infestado por vermes; de volta, vejo o sol nascendo para mais um domingo sem sentido e sem vida. As pessoas voltam para a casa. Meu rosto pulsa por causa dos cigarros e do café que usei intensamente enquanto sonhava contigo. A razão se despe...
E, sem sonhar, me emaranho em meio à ausência e o nada.
Parece que será para sempre assim.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

A Falta...

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Não quero mais olhar tua imagem na foto em minha parede. Não quero mais pensar nos dias tão perfeitos que já não são mais; por enquanto. Parece que quando a inocência se esvai junto aos nossos sonhos, resta apenas um enorme pesar.

Teu corpo tentei em vão prender para sempre em meus braços e agora só há teu cheiro impregnado em mim; teus olhos fitei enquanto você dormia e agora só há a perdição de não poder tê-los mais, não poder amar você mais, não ser capaz de acompanha-la carnalmente talvez por dedicar de modo exagerado meu espírito a você...

Os lábios que beijei envenenaram meus desejos inúteis e impossíveis e a voz doce que ouvi dizer me amar ecoa como grito desesperado dentro do coração da minha alma, ecoa junto a tantas outras vozes incompreensíveis, tão incompreensíveis quanto o amor. Tudo isso aconteceu e acontece. O tempo todo... por quanto tempo?

Não quero mais a paz de fracassado que não sabe fazer nada além de viver na subjetividade idiota de sonhos mortos desde o primeiro despertar. Poderia eu dizer quem sou se não fosse a subjetividade? Seria eu feito dessa mesma matéria opaca da qual são feitos os sonhos?...
Não quero mais... Não quero mais... E é de tanto não querer que acabo querendo e crendo e buscando e amando mais... E é de tanto não querer sentir que acabo sentindo ardentemente, sofrendo , perecendo da mais agonioza amargura... Consequentemente acabo degustando da mais prazerosa alegria e da feliz certeza de que há algo que eu não queira e não querendo quero mais.

Quero sempre não querer para assim aprender a querer mais e mais.
Seja o que for.
Seja o que falta ou o que tenho.
Quero não te querer e por isso te quero mais que tudo.
Quero o sonho mesmo sabendo o quão doloroso pode ser o despertar.
Quero o mais amargo veneno para aprender a apreciar o mais doce dos vinhos.
Quero a penumbra da noite para aprender a admirar também a luz do dia.
Quero a sua falta para que assim a presença se faça mais intensa que qualquer outra.
Quero não querer teu amor... assim, sentirei sem querer e amarei com verdadeira inocência...
Assim, voltarei a pureza de tempos remotos.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Succubus - Incubus

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Durante a noite todas as coisas dormem. Inclusive o silêncio e o medo. Menos os desejos.
Os desejos permanecem acordados e ativos como morcegos farfalhantes nas árvores de uma praça vazia.

A noite tem cheiro de vermelho e cor de luxúria.
O breu é a mata que oculta a peçonhenta e traiçoeira serpente que invade o quarto dos não devassos: invade as vestes de sono da lânguida virgem comportada que tenta dormir como anjo - anjos às vezes deixam de crer em culpa, e por isso caem, e por isso tornam-se livres - . Invade o suor do marido fiel que usa de todos os métodos para continuar a desejar a mesma esposa - esposa invisível na penumbra, e sem alma em seus gemidos de prazer simulado -.



A consciência se dissolve em meio a escuridão dos desejos e prevalece apenas o sentir: Mãos invisiveis percorrem os campos impenetraveis das cristãs; seios de santas são entregues aos beijos dos padres. Na boca de cada criatura moralista, na boca de cada mentiroso que jura perante Deus ou homem pureza e fidelidade eterna ou não, fica o sabor das mais vulgares orgias. Prevalece o sabor dos corpos. Corpos iguais a tantos outros corpos que ardem durante o dia inteiro e queimam com chama intensa para viver durante à noite.

O ar noturno é afogante e mata. Mata quem não sabe nadar através dele, mas todos sabem mesmo sem saber. Salva quem sabe que a impureza é a coisa mais pura que há de existir, mas todos sabem mesmo sem saber.
O som noturno é som de cio. Som de caminho devasso, imoral, irracional e pecaminoso. Caminho sagrado ao inferno lugar de todos os santos. Caminho profano onde as almas são emprestadas à noite em troca de êxtase e gozo, e devolvidas durante o dia, para continuarem mantendo a ridícula fachada de nossa aparência moralmente distorcida.

Succubus e Incubus voltam ao inferno junto ao nascer do sol.
A volúpia se esvai e é novamente reprimida. Resta a satisfação de saber que a noite foi natural, devassa como é a vida, repleta de prazer e... O padre reza, a virgem cala, a freira jura novamente castidade - sem nunca ter sido casta um dia -...
Eles voltarão na noite seguinte.
Enquanto isso, os corpos arderão com febre intensa durante todo o dia.

Algumas coisas só podem ser vistas no escuro.