sábado, 16 de maio de 2009

Em circulos

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Todos os lugares estão ocupados
nesse espetáculo ridículo chamado existência.
A única coisa que me mantém vivo
é a esperança de reviver o que passou...
Ouvir o doce som do silencio
Sentir o doce gosto dos lábios...
Beijos de outrora - recentes -
como se fossem o sopro divino da vida
acendendo a chama fraca e cansada
dos sentimentos soterrados pela desilusão.

Tudo que há em mim está fragmentado
e cada pedaço voa como areia ao vento
vento qual tufão, girando, girando,
girando e retornando ao local de origem
da dor e do cético sentimento de saber
que não há o que sentir realmente; friamente
busco enxergar com outros olhos...
Busco mergulhar em outros olhos...
Então encontro a unificação de meus fragmentos
que juntos tem forma de abismo aos moldes do coração
dentro das profundezas de seu olhar...

Novamente volto a cometer o erro,
e errando encontro novamente paz
em meio às ruínas de sonhos
feitos de sangue e dúvidas.
Todos os lugares estão ocupados...
E continuo a insistir em viver buscando refugio
desse show caótico e vão.
Esquecendo de tudo, ignorando tudo
e vivendo de amar sabendo que o amor não existe;
vivendo na sombra dos sonhos sabendo que é tudo mentira;
esperando pela luz radiante de sua presença,
de sua companhia em um mundo onde não há lugar
nem para mim, nem para você...

Preciso de você sem precisar.
Sonho com você em vão.
Preciso existir e para isso tenho que esquecer que existo.
E só esqueço quando você me lança em meu abismo...
Abismo falso em forma de coração...

Perco-me ao me encontrar em ti
Me encontro ao me perder entre sentimentos.
Não sei o que faz de mim assim...
Não sei o que escrevo ou penso...
Só sei que te amo...
Sem saber o que é Amar.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

A Lira dos Cem Anos

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Tenho dúvidas... Tenho tantas dúvidas!
Pelo número de todos os fracassos que coleciono em minha alma, sou mais que uma pessoa jovem, de vinte e três anos; sou menos que uma pessoa jovem de vinte e três anos.
Coisas inomináveis se apossam de minha mente, sempre de maneira tão súbita, sempre de maneira tão abstrata, sempre fazendo com que tudo vire nada e aumentando a vontade inconsequente de abrir mão desse nada, que é tudo que tenho.
Minha "lira" que embeleza à vida está sem cordas, enferrujada e com vermes horrendos ao redor. Não só a minha, mas a lira do mundo está pútrida. E fede, essa lira. A música incomoda tanto quanto o fedor. São apenas ruídos misturados ao cheiro ruim atormentando todos os que conseguem vê-la, senti-la e ouvi-la.

Tenho dúvidas... Será que tudo isso é verdade? Mas o que é "verdade"? Se não há nada de absoluto então não há verdade alguma. Só resta a dúvida eterna e o cheiro desagradável e enlouquecedor do som da lira dos cem anos presentes em meus vinte e três.

Ah, que saudades de minha juventude! Podem rir de mim os que só enxergam o palpável. Aqueles que tiverem a capacidade de navegar nas profundezas de meus olhos, poderão notar como sou velho. Velho e cansado... Muito cansado. Cansado de que? De ouvir repetidas canções que sempre terminam; de tentar extrair ruído de paz duma lira podre. O cansaço do mundo é forte, e atormenta. "Sempre existe algo ausente, que atormenta". O que me falta é vida, ânimo, beleza, verdade... Me falta o mundo e sua cegueira coletiva. Se todos enxergassem o quão inútil e ridiculo é esse "espetaculo" vivandis, provavelmente já haveriam desistido de batalhar por um futuro que não existe. É tudo o agora, e o agora é nada. O Agora é a dúvida eternamente sem resposta, é a velhice de quem não sente mais prazer em degustar o sabor de alegrias e tristezas.
Ah, que saudade de minha juventude! Quando poucos eram os destroços dentro de mim; quando tudo era construções, apenas construções de sonhos desmoronáveis.

Hoje, agora, o tempo real me faz acreditar que sonhos de areia não conseguem permanecer em nossas mãos quando o vento insiste em soprar, não para refrescar, mas para desmoronar, destruir, acabar. Sim! Acabar! Queimar a lira maldita e viver em um universo mudo. Nada é mais doce que a melodiosa canção do silêncio. O vento não queima o instrumento que embala a vida. Isso é preciso ser feito por mim mesmo. Como?... Meu corpo arde ao pensar; minha mente estremece; mas minha alma permanece fria, congelante a tal ponto que toca o coração... O coração derrete o gelo com suas lembranças, suas melódias que há tanto tempo não são mais escutadas. A alma quer beijar a morte, mas o cansado coração insiste em tirar alguma nota harmoniosa da lira tão velha. Ele, o coração, falha. O frio é mais forte e o fedor da música também.

Maldita velhice de minha alma! Que ela morra de uma vez, junto a tudo aquilo que faz com que a lira dos cem anos continue a tocar sua música moribunda! Talvez assim, com a alma morta, ainda haja esperança fria ao meu coração vazio. Talvez assim eu viva por viver, sem buscar respostas nem dúvidas...
De que adianta tudo isso??? De que importa minha idade? De que importa a lira, as notas, o peito, a alma? Está tudo apodrecendo. Breve haverá um nada ainda maior que o de agora. Breve haverá o pó... E como ninguém aguenta escutar ruídos de uma lira sem vida, ninguém terá vontade de levar flores para animar simbolicamente o túmulo que não terei. Ninguém lembrará dessas palavras torpes. Ninguém saberá que existi.
Eu existi? Nós existimos? Não... definitivamente não. O hoje já acabou e ninguém existe amanhã. Eu nunca existi. Não há quem tenha existido.