segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Solilóquio






Quero alimentar um sonho mas o sonho
Não me alimenta
Quero me embriagar com vinho mas o vinho
Não me sustenta

Quero viver na eternidade mas eternidade
Não cabe na vida
Quero a beleza da arte mas prevalece
A natureza fria.

Tenho uma mente fértil que me leva
A inimagináveis lugares
Tenho uma vida mediocre que me desilude
E causa dores inefáveis

Tenho o básico para a existência:
Amor,saúde, mentiras
Não tenho o básico para sonhar
Mas insisto...insisto...
Não há saída.

Quero amar plenamente...
Não há plenitude no amar.
Quero exilar-me sozinho...
Sozinho não há onde ficar.
Quero conhecer calmaritá, passárgada, o céu...
Me afundo sem querer no inferno
Como judeu num gueto isolado e cruel.

Não tenho felicidade e por isso
Sou feliz
Não tenho vontade de viver mas vivo
Maldito instinto que eu nunca quis.
Não tenho como viver sonhos
Mas sonhos vivem em minha vida.
Quero apenas um plano perfeito
Mas a perfeição só causa feridas.

Não posso embriagar-me e sonhar
Pois lícor não alimenta...
Desse modo não posso amar
Pois amor por si mesmo
Não se sustenta.
Não posso enxergar o real, o real
É desesperador.
Lutar ciente do fracasso só aumenta
O fardo da dor.

Resta sonhar sem sonhar com nada
(Desgraçada inocência de criança)
Resta a dúvida se isso irá acabar
(Talvez um dia finde a dor que é tanta)
Se não há como sustentar o sonho
(Se a vida sem desejos não é nada)
Resta a esperança de que meu crânio
(Roido por vermes: sem carne ou alma)
Sirva para,
Do vinho que nunca tive,
Ser taça.

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