sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Succubus - Incubus


Durante a noite todas as coisas dormem. Inclusive o silêncio e o medo. Menos os desejos.
Os desejos permanecem acordados e ativos como morcegos farfalhantes nas árvores de uma praça vazia.

A noite tem cheiro de vermelho e cor de luxúria.
O breu é a mata que oculta a peçonhenta e traiçoeira serpente que invade o quarto dos não devassos: invade as vestes de sono da lânguida virgem comportada que tenta dormir como anjo - anjos às vezes deixam de crer em culpa, e por isso caem, e por isso tornam-se livres - . Invade o suor do marido fiel que usa de todos os métodos para continuar a desejar a mesma esposa - esposa invisível na penumbra, e sem alma em seus gemidos de prazer simulado -.



A consciência se dissolve em meio a escuridão dos desejos e prevalece apenas o sentir: Mãos invisiveis percorrem os campos impenetraveis das cristãs; seios de santas são entregues aos beijos dos padres. Na boca de cada criatura moralista, na boca de cada mentiroso que jura perante Deus ou homem pureza e fidelidade eterna ou não, fica o sabor das mais vulgares orgias. Prevalece o sabor dos corpos. Corpos iguais a tantos outros corpos que ardem durante o dia inteiro e queimam com chama intensa para viver durante à noite.

O ar noturno é afogante e mata. Mata quem não sabe nadar através dele, mas todos sabem mesmo sem saber. Salva quem sabe que a impureza é a coisa mais pura que há de existir, mas todos sabem mesmo sem saber.
O som noturno é som de cio. Som de caminho devasso, imoral, irracional e pecaminoso. Caminho sagrado ao inferno lugar de todos os santos. Caminho profano onde as almas são emprestadas à noite em troca de êxtase e gozo, e devolvidas durante o dia, para continuarem mantendo a ridícula fachada de nossa aparência moralmente distorcida.

Succubus e Incubus voltam ao inferno junto ao nascer do sol.
A volúpia se esvai e é novamente reprimida. Resta a satisfação de saber que a noite foi natural, devassa como é a vida, repleta de prazer e... O padre reza, a virgem cala, a freira jura novamente castidade - sem nunca ter sido casta um dia -...
Eles voltarão na noite seguinte.
Enquanto isso, os corpos arderão com febre intensa durante todo o dia.

Algumas coisas só podem ser vistas no escuro.

0 comentários:

Postar um comentário