sábado, 18 de abril de 2009

Alegoria da desintegração



Minha alma é uma caverna vazia e inabitável.
Meu corpo é matéria vã em constante perecimento.
Minha mente não deixa que eu seja crente em nada...
Definitivamente, nunca haverá em que crer uma alma oca;
Uma caverna inexplorada e escura onde nem morcegos
Buscam moradia
Alguns ecos vindos de longe sobrepassam a escuridão,
A matéria, mente... Não consigo compreender
O melancólico ruído que vaga pelo vazio funéreo.

Meu coração é gelo pontiagudo preso no alto
Imóvel, frio, infalivelmente petrificado pela eterna
Certeza de que não vale a pena ser coração em brasa
Mais vale o vazio ao ingrato sentimentalismo
Gerador de tantas e tantas frustrações e desencantos que
Insistem em morar
Junto à alma; ecoando ao longe estão todas
Minhas agradáveis recordações que são muito amargas
Para que eu distinga entre boas ou ruins de reviver...

Meu viver é um aglomerado de nada
Nada que é a síntese do tudo refletido
No espelho que está frequentemente a me julgar de massa fétida
Em constante putrefação e morta antes mesmo de nascer.
Os sons ecoam mais forte quando o gelo de meu peito
Consegue queimar e furar profundamente meus
Pensamentos
São ecos e reflexos de duvidas que nunca encontrarão respostas.
O ardor gélido torna mais claro a tonalidade do som inaudível,
Sinto meu corpo congelar... ouço indo e vindo a musica
De um nome distante demais para ser alcançado. Então

Algo invade a obscura e solitária caverna,
Exalando paradoxos e gritando alto, muito alto
A ponto de quebrar o gelo pontiagudo preso
No topo da gruta vazia.
Estilhaços caem por toda parte,
A mente doe a alma ensurdece.
Restam apenas pedaços
De sangue solidificado pelo chão seco.
Os ecos silenciam. Os gritos calam. O escuro aumenta.

Quem conseguiu invadir a caverna em treva
Fazendo barulho em demasia, destruindo o que eu não tinha?
Agora nem a dor fatigante em meu coração
Eu sinto mais
Vazio por saber que o gelo não derrete...
Apenas quebra e se espalha em miseráveis cubículos.
Se ao invés de som houvesse luz,
Haveria então água ao invés de gelo.
Assim talvez
Tudo em mim estaria mais puro...
Mas não Há quem culpar por isso.
Culpado é o liquido sólido
E frágil de alucinações de um coração insano.

O que sobra agora? Só um nome e uma sede eterna
Que tento saciar com o vinho feito de sonhos, o vinho
Que alegra o coração exaurido do herói.
Meu coração nunca encontrou alegria vivendo em mim,
Só resta, então, aceitar viver...
Viver desintegrado,
Utilizando todos os cubos de estilhaço para refrigerar
Taças de sanguíneos sonhos... para isso serve
Um coração destroçado: tornar melhor o vinho
E nada mais.

1 comentários:

Isabel Moreira Rego disse...

Bonito texto. Gostei. Um pouco pessimista, mas bonito de se ler. E como diz no seu perfil quanto à verdade... se pensarmos bem de facto não há verdade. Isto porque o que para mim possa ser verdade... para outra pessoa poderá não ser verdade.
Parabéns!
Chegue aqui correndo, mas vou voltar.
Jinhos
Isa

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